Após sete anos de intensos litígios judiciais e arbitrais, chega ao fim uma das mais emblemáticas disputas corporativas do Brasil. A J&F Investimentos firmou um acordo com a Paper Excellence, controlada pelo empresário indonésio Jackson Wijaya, e adquiriu a totalidade da participação da companhia estrangeira na Eldorado Celulose por US$ 2,64 bilhões (cerca de R$ 15 bilhões). Com a transação, a J&F reassume o controle integral da produtora de celulose.
O imbróglio teve início em 2017, quando a J&F negociou a venda da Eldorado à Paper Excellence por R$ 15 bilhões, valor que incluía passivos da ordem de R$ 7,4 bilhões. Na ocasião, a empresa estrangeira adquiriu 49,41% das ações por meio de sua subsidiária brasileira, desembolsando R$ 3,8 bilhões, com previsão de concluir a aquisição total no prazo de um ano. No entanto, a operação não foi finalizada. A relação entre as partes se deteriorou quando o banco chinês China Development Bank, responsável por financiar o restante da transação, retirou-se do negócio.
Acusações mútuas vieram à tona: a Paper alegava que a J&F dificultava a liberação de garantias e o pagamento de dívidas; a J&F, por sua vez, apontava descumprimento contratual por parte da compradora. A controvérsia agravou-se com questionamentos jurídicos sobre a regularidade da posse de terras por uma empresa controlada por estrangeiros — tema que passou a ser analisado pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4), em 2023.
Diante do impasse, o caso foi submetido à arbitragem internacional em 2021, da qual a Paper saiu vencedora. A J&F, entretanto, contestou a imparcialidade de um dos árbitros e levou a disputa de volta ao Judiciário paulista. Uma série de decisões contraditórias, ora autorizando, ora impedindo a transferência do controle societário da Eldorado, prolongou o desfecho do caso. No início de 2025, a Paper ainda ingressou com pedido de indenização de US$ 3 bilhões na Câmara de Comércio Internacional, em Paris.
No Brasil, o Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ/SP) determinou o retorno do caso à primeira instância. Essa decisão revelou-se decisiva para destravar as negociações entre as partes.
Acordado agora em maio, o desfecho confere à J&F a retomada plena do controle da Eldorado em um momento de valorização do ativo, impulsionado pelo câmbio favorável e pelo aumento dos preços da celulose no mercado internacional.
Em nota conjunta, as partes declararam que o acordo “atende plenamente aos interesses de ambas as partes e põe fim, de forma plena e definitiva, a todos os processos judiciais e arbitrais em curso”. A J&F destacou que o investimento reforça sua confiança no Brasil e na Eldorado, enquanto a Paper Excellence informou que continuará buscando oportunidades no setor de celulose e papel.
O encerramento da disputa representa não apenas o fim de um embate societário bilionário, mas também o alívio para o sistema judiciário, que se desvencilha de um processo complexo, custoso e de longa duração.
Fonte: Migalhas